CENTO E VINTE E CINCO ANOS

19-09-2020 00:00

 

 

 

Comemora-se este ano  o Centésimo Vigésimo Quinto aniversário da nossa Associação.

O contexto de pandemia que vivemos não nos permite fazer deste aniversário uma festa, uma celebração dos Bombeiros de Almoçageme com a sua Comunidade.

E logo este ano que estamos orgulhosos dos novos veículos, dos novos equipamentos e dos novos dormitórios femininos e masculinos que vos queríamos mostrar.

A obra está feita.

Quando o Covid se for embora estaremos cá, convosco, de portas abertas como sempre estivemos.

O momento é de tolerância zero com todos os comportamentos de risco. Iremos manter a rigorosa observância das normas da DGS e da ANEPC para estarmos em estado de prontidão permanente para vos prevenir, proteger e intervir na salvaguarda da vossa vida e segurança.

 

Em 125 anos já passámos e sobrevivemos a tudo : a bancarrota de 1898, o assassinato de rei e do príncipe herdeiro, o derrube da Monarquia e a Implantação da República, a I Guerra Mundial, a epidemia da gripe espanhola, o Estado Novo de Salazar, a II Guerra Mundial, a fome e a falta de liberdade, a guerra colonial, e, felizmente, o 25 de Abril.

Não vai ser esta epidemia que nos vai deitar abaixo.

Não nos estão a exigir os sacrifícios que os nossos pais, avós e bisavós sofreram.

Estão a pedir que basta que todos usemos máscara em lugares públicos, lavemos as mãos e a cara com frequência e mantenhamos distância física uns dos outros.

 

1895

«Distando cerca de três quilómetros para sudoeste da Vila de Colares - e integrando a sua freguesia (concelho de Sintra) -, Almoçageme aninha-se na vertente noroeste da Serra de Sintra, já próximo do litoral. O núcleo habitacional primitivo desta aldeia desenvolve-se em círculo, a partir de uma densa malha urbana, sugerindo antigas origens, com as suas tortuosas e estreitas ruas.

Ao longo dos séculos, o seu alvo casaria de raiz vernacular solidamente erguido em alvenaria de pedra, exaltando os volumes cúbicos e os telhados mouriscos, foi-se espraiando pela encosta, cercado por pequenas hortas, pomares e vinhas que humanizam a paisagem, conferindo-lhe uma ambiência verdadeiramente rural.

No século XIX, a população de Almoçageme dedicava-se à exploração da terra, produzindo abundantes e variados legume, saborosas frutas (em particular, o pêssego rosa, a maçã raineta e a pera rocha) e uva da casta ramisco, a partir da qual se fabricava o famoso Vinho de Colares, hoje em completa decadência.

Por essa altura, o combate aos incêndios que, aliás, se observavam com alguma frequência, sobretudo nas medas de matos para as camas de gado acumuladas nos pátios, junto às casas, e nas chaminés, estava a cargo da própria comunidade que se organizava sempre que ocorresse qualquer fogo. Formavam-se, então, longas filas de homens e mulheres que, entre si, passavam baldes, canecos ou bilhas com água ao grupo mais afoito que os despejava nas chamas, enquanto outros, munidos de incipientes batedores, tentavam abafar as ondulantes labaredas. Contudo, estes métodos revelavam-se insuficientes para a extinção atempada dos incêndios, o que resultava quase sempre em significativos prejuízos, por vezes irrecuperáveis.

Porém, esta secular atitude perante o fogo alterar-se-ia na última década de oitocentos, quando um grupo de homens bons decidiu - na esteira do espírito associativista que caracterizou o país, sobretudo na segunda metade do séc. XIX, quando muitas das associações de cariz cultural e/ou social promoveram corporações de bombeiros, os quais contribuíram de forma inequívoca para a segurança e bem-estar das populações -, criar uma Associação de Bombeiros Voluntários, à semelhança do que, em termos regionais, se fizera em Paço D'Arcos (1893), Cascais (1886), Sintra (1890) e Colares (1890).»

O facto que deu origem à fundação dos Bombeiros Voluntários de Almoçageme teve lugar «durante os festejos em louvor da Nossa Senhora da Graça, em Outubro de 1893, verificou-se um grande incêndio provocado por um foguete [... do novo sistema de assobio, que, caindo sobre uma meda de mato (propriedade de José Valério Vicente) comunicou-lhes fogo, rapidamente por quatro partes, sendo impotentes todos os esforços para o debelar e apresentando, numas poucas horas, um aspecto imponente contemplado por centenas de pessoas que fizeram diferentes comentários.]. As inusitadas proporções deste fogo obrigou a que se recorresse aos préstimos dos Bombeiros de Colares, cuja bomba [ainda que tarde, devido à grande distância, prestou relevantes serviços].

Este facto, ao qual não serão alheios outros incêndios, porém, de menores proporções entretanto verificados, e certos bairrismos e rivalidades entre as populações e famílias patriarcas, nomeadamente os Gomes da Silva, em Almoçageme, e os Costa, em Colares - que aliás haviam dotado a Vila de um corpo de bombeiros e de uma banda, respectivamente em 1890 e 1891 - terá levado os almoçagemenses a cogitar na criação do seu próprio corpo de bombeiros.

No entanto, nada se conhece sobre o processo de organização da Associação dos Bombeiros Voluntários de Almoçageme, nem sobre os seus principais impulsionadores, porquanto não chegaram até nós quaisquer fontes escritas ou registos orais que nos permitam esclarecer o assunto. Hoje, apenas se sabe que esta ideia terá sido apadrinhada por José Gomes da Silva, capitalista e grande comerciante de Vinho de Colares que havia já incentivado a criação da filarmónica local, em 1892.

Este processo, devido a limitações várias - e à semelhança do sucedido na formação de outras instituições similares -, terá sido moroso, pois, apenas em 1895 se constituiu, na realidade, a Associação dos Bombeiros Voluntários de Almoçageme. Dos primeiros tempos de vida desta Associação chegaram até nós escassos testemunhos materiais. Por conseguinte, encontram-se depositadas no Museu Renato Lobo Garcia (Museu Monográfico da Associação dos Bombeiros Voluntários de Almoçageme) duas capas de couro, provavelmente pertencentes a livros de assentos e quotas, infelizmente já desaparecidos, que ostentam, picotada, a data de 19 de Agosto de 1895, o que nos permite, de imediato, colocar a hipótese de ser essa a data da fundação do Corpo de Bombeiros.»

 

( Maria Teresa Caetano, Cem Anos ao Serviço da Comunidade )